‘Dona da Noite’, o primeiro álbum de MC Marcelly, chega às lojas pela Universal, dois anos após o single independente de ‘Bigode Grosso’. E trazendo um lado bem mais pop e repaginado da funkeira de 23 anos, ela se apresenta no estado nesse final de semana para mostrar como ficou seu novo cd.
O repertório da menina passou por um time de produtores (Dalto Max, Oscar Tintel, Bruno de Holanda, Rick Joe, Gustavinho DJ e Alex MPC) e chega unindo o lado gozador do hit original (que está no CD) a letras mais românticas, como ‘Nasci Pra Te Amar’ e ao discurso sobre violência doméstica de ‘Não Se Brinca Com Mulher’. Mesmo bastante mudada, ela faz questão de manter o ‘MC’ no nome artístico.
“Mesmo hoje em dia, ainda há muito preconceito com o funk, infelizmente. Dei entrevista para vários sites e alguns pediram para me apresentar só como ‘Marcelly’, sem o MC. Falaram: ‘Ah, nosso público é mais classe A, não pega bem’”, conta a menina criada no Complexo do Alemão, que chegou a criticar Naldo e Anitta por tirarem o título do nome artístico.
“Hoje entendo o lado deles. A gente foi evoluindo com o tempo. Comecei em 2008, mas não tinha nem perspectiva de gravar, não achava nem possível que existisse um CD de funk. Tive até outros sucessos antes de ‘Bigode Grosso’, mas foram restritos à galera do funk. Nosso trabalho era mais voltado para a comunidades. Os produtores falaram que era meu primeiro álbum e que seria legal ter batidas e letras mais leves, um som que até crianças pudessem ouvir. Antes a gente falava de coisas que estavam mais próximas da nossa realidade”.
Trancada na última quarta na sede da gravadora Universal, na Barra da Tijuca, para dar entrevistas sobre o disco, ela mal soube que na Cinelândia havia uma manifestação de mulheres pedindo a saída do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB) da Presidência da Câmara, por suas posições contra o aborto. “Mas vou procurar saber”, diz.
Marcelly acaba de interpretar uma vítima de violência doméstica no clipe de ‘Não Se Brinca Com Mulher’. A música foi feita logo após a morte da amiga Amanda Bueno, dançarina do grupo Jaula das Gostosudas, assassinada em abril de 2015 pelo namorado Milton Severiano, e foi incluída por Marcelly no disco com o repertório já quase todo definido.
“A música foi inspirada não apenas pela Amanda, mas por todas as Jaquelines, Marias, Ivetes que existem por aí e sofrem esse tipo de violência”, conta MC Marcelly, dizendo nunca ter passado por nada parecido. “Eu era bastante leiga, vim de comunidade, quando era criança vi coisas como essas. Hoje quanto mais estudo esse assunto, mais fico horrorizada. O que sai no jornal é só a ponta do iceberg”, conta. O tema da redação do Enem de 2015, ‘A Persistência da Violência Contra a Mulher Na Sociedade Brasileira’, deixou a MC muito feliz.
“Poxa, uma galera jovem, se formando agora, começando a pesquisar sobre isso... Quanto mais gente ficar sabendo, é melhor. Vivemos num país muito machista e a mulher fica sempre em segundo plano”, diz a menina, que mesmo novinha é casada há seis anos com Frank Cavalcante, seu empresário. O maridão é dez anos mais velho, tem 33. “Ele foi o maior papa-anjo!”, brinca.
O receituário comum a discos de cantoras de funk também surge no CD de Marcelly. Igualzinho a Anitta e Valesca Popozuda, ela fala de mulheres recalcadas em ‘Dona da Noite’ e ‘Arma Secreta’ (“a gente é luxo, recalcada é lixo”, canta). “Isso existe muito no mundo feminino, é uma realidade. Toda mulher conhece alguma mal-amada, alguma invejosa. Deu super certo. O ‘a gente é luxo, recalcada é lixo’ era usado até nos nicks de MSN”, diz. Mas será que isso não torna todos os CDs de garotas funkeiras muito iguais, Marcelly? “Não, cada uma consegue fazer o seu trabalho. E tem espaço para todo mundo. Quanto mais mulheres cantando funk, melhor!”.
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