Formado por Mateus Carrilho, de 23 anos, e Davi Sabbag, de 22, o grupo se conheceu nas casas noturnas do circuito alternativo de Goiânia, onde imperavam o rock indie e a música eletrônica. De brincadeira, Carrilho e Sabbag promoviam festas em que discotecavam música paraense, em especial o tecnobrega. “No começo, as pessoas até reclamavam, mas, no fim, dançavam muito e se divertiam”, diz Sabbag. Ele cursou composição na Universidade Federal de Goiás e começou seu ensino musical aos 8 anos, com uma bolsa de piano clássico. Para divulgar a Festa Uó, que teve poucas edições, resolveram produzir um vídeo. “Não quero saber” é uma versão com batida tecnobrega de “Teenage dream”, da cantora americana Katy Perry. As letras engraçadas em português e a boa direção de Carrilho, formado em publicidade pela PUC de Goiás, chamaram a atenção. Perez Hilton, personalidade da internet especializada em fofocas de Hollywood, notou o grupo. O DJ americano Diplo, um dos responsáveis por levar o funk carioca às pistas internacionais, também. “Foi quando percebemos que a coisa estava ficando séria”, afirma Carrilho.
Eles deixaram de lado as festas e, a partir daí, Carrilho, Sabbag e a transexual Mel, nova integrante, começaram a trabalhar em outras versões de canções americanas. O segundo vídeo foi ainda mais elaborado. A banda fez uma hilária adaptação do sucesso “Whip my hair”, de Willow Smith, filha do ator americano Will Smith. Transformou o refrão “shake them off” (algo como “balance-os”, em referência aos cabelos) em “Shake de amor”, título da versão. A música e o clipe tratam de uma possível vingança da apresentadora de televisão Luciana Gimenez contra o cantor Mick Jagger, que a engravidou enquanto ainda era casado. “Shake de amor” brinca com as bebidas emagrecedoras que Luciana divulga em seus programas. “Virou nome de bebida nas baladas”, diz Carrilho. O clipe foi o mais acessado da banda (350 mil acessos desde maio) e entrou para a seleção do VMB. A apropriação mais radical foi feita neste mês, quando lançaram “Rosa”, uma adaptação de “Last night”, sucesso da banda americana The Strokes. Com roupas que misturam a moda roqueira com elementos do brega, eles cantam Rosa, meu céu, eu vou te levar desse lugar, te tirar desse bordel, usando um tema já tratado pelo poeta maior do brega, o também goiano Odair José.
Pegar um estilo da periferia e levar a um circuito alternativo não é novidade na música brasileira atual. Há cinco anos, os curitibanos do Bonde do Rolê estouraram internacionalmente com um batidão indie proveniente do funk carioca. Bonde do Rolê e Banda Uó estão juntos agora em um movimento chamado Avalanche Tropical (leia no quadro ao lado). Independentemente de onde vieram, eles fazem música de diversão. É o escracho brasileiro, espontâneo e sem preconceito. Na noite do VMB, Mel comemorou o prêmio cumprindo a promessa de tirar a calcinha no palco.
“Apesar de vir do rock e da eletrônica, somos da geração axé, dançamos muito É o Tchan na infância. Gostamos de toda a bagaceira da música brasileira de periferia”, diz Carrilho. “Queremos romper com essa besteira do preconceito.” No começo, a musa do tecnobrega original, Gaby Amarantos, conhecida como a Beyoncé do Pará, não simpatizou com a banda. No fim do VMB, Gaby se apresentou com a Banda Uó. “Foi uma lição, para acabar com o bairrismo”, diz ela. “É um som interessante, mas nunca será o tecnobrega paraense. Eles só bebem na fonte, não querem imitar.”
Para evitar problemas, a Banda Uó batizou o som que faz de new melody, mais pop e com batidas mais leves que o tecnobrega original. E planeja avançar no rumo próprio. A Banda Uó deixará de fazer versões de músicas consagradas e pretende apostar em outros estilos, como a cúmbia, o reggaeton e a música árabe. Se a mistura não parece promissora, espere para ouvir. O tecnobrega é uma usina de surpresas.
E a Banda UÓ esteve neste final de semana em Vitória-ES, onde lotou a casa de show Clube 106 em Jardim da Penha. Muito atenciosos nos receberam e tiraram muitas fotos com a gente...